Sem pretensão, a artesã Ilie Mar da Silva, 42 anos, faz sucesso com a fauna brasileira. Onças, capivaras, araras e tuiuiús são estampas nos panos de pratos e jogos de mesa produzidos por ela, em Campo Grande.
“A ideia da Coleção Pantanal iniciou sem pretensão. Eu estava há alguns meses procurando uma estampa de araras para produzir panos de prato para uma encomenda e não achava. Até que finalmente encontrei. Não só essa, como outros animais da fauna pantaneira. Fiz a encomenda e me surpreendi com o resultado”, declara a artesã.
Todas as peças são produzidas no ateliê da Ilie, a partir de tecidos de composição natural como linho e algodão.
“Dou uma cara nova para panos de funções antigas, como os panos de prato. São panos modernos que compõem desde coleções mais minimalistas às combinações cheias de cor e tropicalidade. Não há regras nos temas das coleções, apenas o desejo de entregar panos modernos, eficientes e lindos, preservando a elegância e a versatilidade”, detalha a artesã.
E todo o processo, desde a idealização até a costura demora, viu?
“Eu trabalho com coleções, então, existe a preparação do tema, a definição dos artigos, tecidos, estampas, estudo de combinações, construção da modelagem, corte, costura e testes. Geralmente, eu preciso de uma semana para definir todo projeto e especificações das costuras, e finalizar até 10 peças piloto. Daí eu começo as produções”, ressalta.
Por isso, Ilie não consegue manter um estoque, já que ela faz todo o ciclo de costura semanalmente e finaliza sempre com poucas unidades de cada coleção. E tem novidade por aí.
“Lancei uma coleção nova no sábado, dia 8, seguindo essa proposta colorida, porém, mais suave e com referências do artesanato tradicional do crochê e bordado. Já está fazendo sucesso”, completa orgulhosa.
E tudo começou pandemia…
Ilie ainda conta que o artesanato começou na pandemia, em 2020. “Quando vivi o desespero de ficar sem trabalho no meio da pandemia. Semanas antes, eu fiz uma transição de empresa no setor de varejo. Com o lockdown, a empresa em que eu estava apenas 20 dias demitiu todos os recém contratados, inclusive eu”, recorda ela, que trabalhava como gerente de loja.
“Eu sabia que não teria uma saída convencional e meu olhar ficou bem atento a todas as possibilidades”, complementa. Aliás, foi nesse período difícil que Ilie embarcou na costura.
“Nos dias de isolamento, me preocupei com a saúde mental da minha mãe e, por isso, inscrevi nós duas em um projeto social de costuras de máscaras que seriam entregues nos hospitais. Naturalmente, comecei a costurar para família e amigos, descobri modelos e técnicas, e assim surgiu minha primeira produção artesanal”, relembra.
Ilie passou noites e noites costurando as máscaras. Todas elas eram muito elogiadas, fazendo a artesã que existia dentro dela vir à tona.
“Enxerguei a oportunidade e comecei antes de encerrar a necessidade do uso de máscaras. Voltei pro mercado de trabalho em maio de 2020 e fui conciliando as duas funções até dezembro. Em janeiro de 2021, eu aluguei um lugar pra morar e montar meu ateliê pra viver exclusivamente da minha marca artesanal”, afirma toda feliz.